Curitiba é uma cidade grande. Bom, pelo menos é o que dizem sobre ela. Ganhou esse status assim como uma série de outras cidades que não vejo necessidade de citar. Assim como o Rio de Janeiro, Curitiba é uma cidade grande. Em oposição ao Rio de Janeiro, ela ainda sabe se fazer pequena. Pequena, tranquila, provinciana e, acreditem, quase bucólica. No bairro do Ahú as casas são de todos os tipos, as ruas arborizadas, com jardins floridos que-só-vendo. Todos os dias tem cara de domingo. Poucas pessoas na rua, ou melhor, ninguém na rua. Os estabelecimentos fecham cedo e conseguir uma cerveja pode ser uma missão de, maios ou menos, umas duas horas de duração. Todas as casas são vigiadas pelo moço que dirige uma moto e cuida da rua de noite. A nossa segurança aqui é garantida por 11 janelas fechadas com cadeado, três portas com três trancas cada e o moço que dirige a moto e cuida da rua de noite. No quintal, a cachorra Biscoito é o alarme para qualquer movimento - suspeito ou não. Biscoitinha ou Biscoitão late se um carro estaciona perto da casa, late se alguém passa na rua, late se o cachorro de outra casa late e late toda vez que o moço que dirige a moto e cuida da rua de noite passa em frente a entrada da casa. Ah, ela também late de saudade do Café, o gato. Os donos da casa disseram que "o Café pode ficar aqui dentro porque os gatos são mais higiênicos". Aham. Sábado em Curitiba também é domingo. O Torto fechou meia noite porque a cerveja acabou e não deu conta do número de pessoas. O Lado B já estava fechado, assim como o Roca e todos os outros bares. Só nos restou o Olds que era o único bar aberto e por isso abarrotado de gente. Fila para comprar, fila para pegar, fila para mijar, fila para sentar e pedir licença. Em Curitiba as pessoas ainda bebem na rua, sentadas no meio-fio ou em rodinhas de gueto. Cantagalo? São Lourenço? São Pedro ou São João? A fila do Wonka dobrava a rua - também era a única balada existente na cidade em uma noite de sábado(DOMINGO). O cigarro ainda não aumentou aqui e você pode pagar no débito, sempre que quiser. O telefone das cias. de táxi é 0800 e a maior parte dos carros também aceita cartão. Os táxis são laranja tipo queijo cheddar de bisnaga. Sabe? O Lu e a Bia foram para a praia. A Chics está dormindo e eu estou no meu quarto provisório. Se o Café entra é espirro pra todo lado. Lá embaixo fica o quarto que fizemos de escritório para o trabalho. Aliás, hoje o dia foi muito produtivo. A Mariama é a nossa produtora e ontem foi aniversário dela. Na festa da Mariama teve piscina, pinha colada, cerveja, ice e cachaça mineira da boa. A Mariama é mineira. Ela veio para Curitiba fazer faculdade...como todas as pessoas que eu conheço de Curitiba que não são curitibocas. O Lu e o Bruno tocaram muita viola e guitarra pra gente. Pessoas que se gostam, que se amam, que se comem e se bebem quando reunidas são todas iguais. Parecidas, bem parecidas. É que sentado no sofá da Mariama, com o som rolando, a cerveja esquentando, o cigarro queimando de repente era gente. Sabe? Maria Bethânia, please send me a letter...Caetano também é curitibano. Música por todos os lados e também eles, os músicos. Canções belas, Café Chinelos, Gato Nanquin, Rosa Morte. Eles cantavam e riam e, aos poucos, quem morria pelos cantinhos era eu. Saudade boba, saudade gostosa. Saudade que afirma que o que a gente tem é bom- demais-da-conta e por isso a gente não troca. A gente vai ali, mas volta. Curitiba me prova diariamente o que se diz improvável nas curvas cariocas. O custo de vida é honesto, a comida farta e se vive com o que se tem. Arroz, feijão, picanha acebolada, batata-frita e um prato de saladinha quanto dá? "O prato executivo, é? Tá Oito reais, piá". Aí também tem dessas coisas, né? De se lembrar do sujinho e dos seus 12 reais cobrados. Tem quatro pessoas na mesa, moço. "Então vocês vão dividir uma coca dois litros?". Isso. Aqui o ônibus não atrasa e você pode ver o horário que ele vai passar na internet. Nada de mofar no ponto, nada de surpresas. E se o ônibus chega mais cedo do que o horário previsto?, eu perguntei. Ele aguarda no ponto, aguarda a pessoa que se programou para o horário previsto. E se ele atrasa? O motorista avisa a central e você pode ver no seu celular. OMG. Em frente ao ponto de ônibus, logo depois do Barolho - o do almoço bacana - tem um buffet de sorvete. BEL. Pertinho da gente o museu daquele moço que morreu faz pouco tempo e a morte dele ainda é comentada. Eu não vou dizer o seu nome para que ele possa ficar sem ler essa postagem. O centro cívico é lindo e o Palácio do Governo fica atrás do museu. O centro é habitado e não esquecido. A grande Curitiba é pequena. A livraria Cultura hoje estava fechada para melhor atender aos clientes amanhã. Boa parte do comércio só voltou as atividades no dia de hoje. Essa gente daqui, bem diferente da nossa gente daí (e isso não é um elogio), leva a sério essa história de recesso, repouso. Até carro parece que por aqui descansa. O Gustavo chega na quarta e eu ainda não o conheço mas somos vizinhos de quarto. A casa não é casa é chalé. Toda de madeira para afastar o frio - que não está fazendo. Dizem as más línguas que eu trouxe o calor comigo. Ah, no avião eu conheci a Rafaela, uma querida-super-jovem tatuada que foi passar o ano novo no Rio. Nessa quinta a gente vai pruma balada juntos. Então também tem dessas coisas, né?
com carinho,
Caio.
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